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Súplica

Vultos cercam meu leito fúnebre Não os consigo diferenciar... Até quando suportarei o lúgubre Coração que não deseja mais amar? Não quero mais esta vida enfadonha! Chega de volúpia! Chegar de seios fartos! Quero que a morte, outrora medonha, Chegue célere, em passos largos. Estou aos pouco entristecendo o espírito Estou consumindo o ópio letal. Por favor! Um copo cheio de absinto! E embriague-me com seu líquido fatal. Fujam! Fujam, vultos prazerosos! Não desejo mais vê-las em meu quarto. Não tenho mais gestos airosos. Só sei que da vida estou farto! Oh! Deus por que ainda devo viver?! A desgraça é pouca e a alma padece Basta! É preciso parar de sofrer! A alma liberta-se e o corpo falece.

Silêncio Ensurdecedor

Uma calma perturbadora Olhar fixo no vazio Coração estraçalhado... Respiração ofegante Olhos marejados Lágrimas e lágrimas... Uma dor contida Músculos contraídos Pressão no peito... Sangue gelado Fim crônico. Silêncio e silêncio...

Um Sonho Mau

Se tivesse caveiras em meus pesadelos Minha cama seria um túmulo E meu quarto uma alcova gélida. Se meu coração refletisse meus falsos sorrisos Talvez não pensasse em silenciar Pela dor profunda Pela escuridão da alma... Meu corpo letárgico sangra. Apenas os olhos inquietos Procuram o ponto de fuga Escapar daquele lugar lúgubre Daquelas paredes sufocantes Daquele ar fétido de carne putrefata De um marasmo interminável... E como num sonho, antevejo a minha fuga! A realização de meus pesadelos!

Angústia Naturalizada

Não há razão para todo este mal Não há mais razão, apenas instintos Animal racionalmente irracional. Nova destruição – domínio da barbárie. Tudo é natural...tão natural... Sons de tiros... Será que alguém foi atingido? Onde está o desespero? Não consigo ficar em paz comigo No sacro santo lar a angústia pulsa Ao saber que em algum lugar a barbárie vence. Apenas paredes separam a paz e do desespero. A irracionalidade domina o homem. Mortes... Fim de famílias, De homens, da paz. Fim da razão.

Versos Íntimos

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera -  Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável,  Mora, entre feras, sente inevitável  Necessidade de também ser fera.  Toma um fósforo.  Acende teu cigarro!  O beijo, amigo, é a véspera do escarro,  A mão que afaga é a mesma que apedreja.  Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,  Apedreja essa mão vil que te afaga,  Escarra nessa boca que te beija!   Augusto dos Anjos

Delírios

Gotas de suor escorrem pela minha tez Febril, meu corpo descompassado treme Consciente, enquanto meu ímpio coração geme,  Minha mente finge devaneios de estupidez.   Sufocantes paredes de minha gélida alcova  Não me resta mais nada! Um gole de absinto!  Nostalgia e ansiedades, uma terra nova!  Não consigo mais esperar! Do sino, ouço o tilinto.   O incessante sibilo dos meus pulmões,  A falta de ar, a angústia, o desejo do fim  Não quero mais ouvir vozes e canções!  Minha amada donzela não me verá assim! Estou cego ou é delírio? É melhor repousar...  Não sei se conseguirei deixar de sofrer. Volto para o túmulo na certeza de ressuscitar.  Mesmo que ainda fantasio viver.

O Enforcado

Ainda ouço os sons do patíbulo A multidão agitava entreolhava-se Assistindo o espetáculo horrendo. Com a corda bem amarrada O carrasco estava a esperar. Sol inclemente, castiga impunemente A turba ansiosa e passiva sente Que a hora fatal está a chegar. Aos pés do cadafalso, a amada; Choro convulsivo, as carnes tremendo O altivo condenado, ainda se Não acreditasse, apresentava-se belo. O silêncio tomou o largo Os sinos iniciaram seu badalar A morte pairou sob a plebe amedrontada O sacerdote encomendou o corpo Com a túnica branca e a corda no pescoço O infeliz réu observou o firmamento E saltou para o escurecimento Caindo do seu bolso um esboço, Uma carta, admitindo-se morto Dias atrás, no casamento de sua amada, Quando matou aquele que a insultou no altar Comprando-a por seu virginal estado.

Meu Vício

Vício sufocante...ofegante! Não consigo nem por um instante Livrar-me ou salvar Minha alma errante Que ainda está aprendendo a amar. Não penso na minha vida Errada. Não vejo saída! Quem sabe o caminho a percorrer? Será que é buscando a minha lida? Estou cansado de sofrer. Dúvidas...angústias e leituras Noturnas e diurnas Inquietam minha alma saudosista. Passeando pelas antigas ruas Encontro resquícios intimistas. Estou tentando dar uma direção Ao que tenho no coração. Quero amar meu vício sem tristeza Não desejo separação, Mas não posso fazê-lo só por nobreza.

A Morte

I Se Satanás pudesse escolher alguma alma, Ele me escolheria, com toda a calma. Quando meu corpo apenas vive E minh’alma não mais sobrevive. II Minhas lágrimas levaram meu espírito; Meu corpo já está em estado crítico. Se em meu peito a fibra rebentar, Meu corpo, enfim, irá descansar. III Em minha fronte a dor pelo pensamento; E eu vivo a espera do meu passamento. Sofrer em alma, sofrer em corpo, Não agüento mais sofrer! Prefiro está morto. IV Não sei mais para onde devo eu fugir, Só consigo pensar em deixar de existir. V Estou caminhando para um abismo sem fundo O abismo é escuro pálido, mórbido e forte. VII Só assim curarei a dor de meu peito, bem no fundo, E talvez conseguirei outro amor: a morte.

Jovem Rapaz

Uma alma nas sombras do céu Um anjo caído... Coberto por um véu Seu torto corpo moído. Na certeza do futuro: a morte Temeu ofegante pela sorte. Não quis mais sofrer de ansiedade Com a tristeza impressa na tez Já tinha descoberto a verdade Sofria de insensatez... Na luta interna entre corpo e mente A alma é que mais sente. O sangue que escorria pelas narinas Descia o rosto alvo E pelas suas feições finas Percebia que era seu momento mais calmo. Apenas 24 anos... Um jovem rapaz Enfim encontrou alguma paz.

Virgens de Ébano

Insano! Ouço vozes que correm o porão! Como se elas ressurgissem da escuridão E dentro desses vultos falantes Via belas virgens cor de ébano ofegantes Não acreditava! Voltaram as febres! Elas estavam presas em cárceres Mas romperam o grilhão que as prendia E agora estavam a minha vigília... Eram vultos! Ou eram virgens belas? Não sei, mas eram novamente elas! Sopravam os ares mórbidos em meus ouvidos Enquanto este peito e este corpo lutavam destemidos Para sobreviver e quem sabe encontrar A virgem idealizada que ainda há de amar... Suspiros, eu os ouço! Como estão pálidas! Outrora tão bronzeadas e cálidas!... Delírios que traduzem o choro da alma Que poenta, ainda comete uma ressalva: - Não ame! Não sinta essas saudades! Mas mesmo assim teimo e respondo: - Viverei o amor e encontrarei as felicidades! A febre acaba, o delírio findou-se em meu cômodo.