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Mostrando postagens de 2004

Mudanças

Não gosto de mudanças! Esbraveja uma voz de meu interior. Tento empurrá-la, ocultá-la Mas é impossível negá-la... Mudanças incomodam-me a alma Talvez necessito de um mundo estático, Pragmático, para poder acalmar o espírito Porque ele vê nas transformações A destruição de seus mundo organizado Fazendo dele um caos, um nevoeiro Impedindo-me de enxergar O que era outrora tão racionalizado... Confuso, meu ser teme perder-se E ficar desorientado, sem rumo Com medo de tentar reorganizar Para encontrar novamente a lógica perdida, Já que ele não sabe se conseguirá Reconstruir sua visão idealizada.

Bucolismo

Olhe as estrelas como brilham na noite Olhe os escravos, escute o estalar do açoite Nada mais te assustas, tu estás indiferente Teus olhos são impassíveis, tua pálpebra está dormente Escute o bater das ondas nas areias infindas Volte à nossa terra, e ela não te darás boas vindas Já não me serve mais o teu singelo amor Tu conseguiste apenas trazer-me muita dor. Escute os suspiros chorosos de uma donzela abandonada, E veja as palmeiras outrora vivas, agora derrubadas. Sinta o vento nefasto e doloroso da Beira-mar, E o mundo, feliz e amado, diz: - Ele não consegue amar. . . Respire o ar bucólico de uma cidade do campo, E cubra algum morto com um manto. O manto da dor, do amor e da tristeza. Tu nunca foste amante de uma marquesa; Nunca vivestes numa terra de palmeiras destruídas, De sabiás mortos, onde almas não têm vidas, Onde minha vida não tem mais amores, Onde jardins já não têm mais flores. . .

Amanhecer

O chão reflete o brilho do sol O sol penetra pela janela Como o amante que penetra em sua donzela Ilumina a sala escura e nebulosa Atingindo aos olhos de quem nela dorme. . . Depois de uma noite fria, O sol esquenta o corpo morto Que teve seu último prazer. A donzela ainda dorme em seu leito E um corpo descansa no chão, na lousa; Aquela noite, talvez tenha sido fatal Mas, quem resistiria àquela donzela sensual? E depois do prazer, veio o punhal. . . Cravado em seu coração. . . Em seu peito! O sangue escorre pelo chão da alcova E a donzela, cansada, deita-se para dormir Quando então, o sol começou a surgir.

Flores Mortas

Flores Mortas na jardineira de minha alcova Os raios de sol tentam sair do pélago da escuridão Mais uma noite em claro e de dor faço de minha pena uma arma contra a solidão E sobra um livro escrito e morto, e vívido O sol tenta se sobrepor aos raios brancos da lua Minhas flores outrora cultivadas, já estão murchas Minha pena não para de desenhar palavras E imaginando histórias, escrevo poemas mórbidos Meus dedos cansados e doloridos Dedos estes que passaram a noite em claro Escrevendo, poetizando sobre o que eles nunca sentiram Amor. . . Assim o dia vem tomando conta do mundo Minha cela ainda está na penumbra. Eu vivo! Ainda vivo. . . Mas não sinto. . . Meus cabelos vermelhos, outrora foram castanhos Meus olhos verdes, outrora choraram tanto. . . E minha mão, sem descanso escreve, Escreve tentando saciar sua sede de expor a dor Tornar minha dor, uma dor do leitor E ao mesmo, um prazer tão deleitoso, quanto amar E estes versos sensíveis fogem da luz do dia Eu não quero encontrar a luz!

Inocência

Ó meu anjo, vem correndo, Vem tremendo Lançar-te nos braços meus; Vem depressa, que a lembrança Da Tardança Me aviva os rigores teus. Do teu rosto, qual marfim, De carmim Tinge um nada a cor mimosa; É belo o pudor, mas choro, E deploro Que assim sejas tão medrosa. Por inocente tens medo De tão cedo, De tão cedo ter amor; Mas sabe que a formosura Pouco dura, como a flor. Corre a vida pressurosa, Como a rosa, Como a rosa na corrente. Amanhã terá amor? Como a flor, Como a flor fenece a gente. Hoje ainda és tu donzela Pura e bela, Cheia de meigo pudor; Amanhã menos ardente De repente Talvez sintas meu amor. Autor: Gonçalves Dias

A Montanha

A montanha recoberta de verde No calor, se descobre Mostrando suas curvas petrificadas, Quentes, sentindo o calor do sol Transformando-se num verdadeiro braseiro Onde as cavernas são esconderijos das sombras, Que fogem de tamanho calor Descendo montanha a baixo O calor derrete a grama Tornando a montanha mais sinuosa... E cálida, porém mesmo seca Ainda é bela, muito bela Pois o mesmo sol que esquenta Também a desenha Como uma sombra de mulher.

A Lua

As nuvens negras encobrem a triste lua, Que, em noites frias, ela vela meu corpo. Meu corpo, que em dias quentes, ela cultua. Seu corpo escultural, de musa semi nua, Reviveu e encheu de vida um anjo torto, Que agora, em sua atmosfera, flutua. E o brilho alvo de sua pele crua, Reflete, deixando meu corpo pálido, como um morto; Encantado, fiquei deitado em plena rua. E a pálida atmosfera, antes toda sua, Agora a ela estou preso. Antes me tivesse roto! E então, passei a maldizer-lhe. Oh! Formosa lua!

Poeta-Padrão

Para Drummond... Era funcionário público... Com todas as características, Era padrão... Padronizado e padronizante Era burocrático... Pontual, batia o cartão! Quebrava regras... da escrita. Era o mundo! Era comedido... Era o novo do típico. Funcionário público da escrita! Porém, sua escrita pública não era funcionária O subjetivo era o seu ponto. Inovadora, transformadora, desvela o mundo! O mundo de um Raimundo, Funcionário comedido...poeta fenomenal. Primeiro e único poeta-padrão do Brasil.

O Casebre

A lua ilumina a margem do riacho, que corre luzente pela floresta, iluminando a vida noturna dos animais e das plantas. Perto dele um casebre rústico resiste ao tempo, com velas para iluminar a noite. Uma senhora espera alguém na varanda do casebre. Um senhor se aproxima e a conduz pelas mãos adentro. E o casebre outrora tão estático e iluminado por velas, agora é movimentado pela luz do amor. Estalos de beijos ardentes podem ser ouvidos por toda a floresta, abraços fogosos aquecem o singelo casebre nesta noite fria. Calmamente, ele a despe, e ela excitada beija seu peito másculo. Sobre a cama ele a beija e lambendo todo o seu corpo, ele suga o amor de seu coração e toda a palidez de seus lábios. As mãos inquietas cruzam-se e entrelaçam-se, e ele penetra nas entranhas mais íntimas da sua amada, sentindo todo o seu fulgor e sua respiração ofegante. O gemidos de prazer ecoam pela floresta, . . . Pura volúpia! Puro deleite! No entanto, logo, a floresta retoma a paz, o silêncio novamente e

Neblina

A tristeza assola o mundo frio e tenso As bactérias devoram os corpos mortos Tudo está ermo, a noite surge nebulosa Entre a palidez da lua, o uivo do lobo ecoa Ecoa por entre os ouvidos dos homens Que vivem a vida pela madrugada fria. Sombras habitam becos escuros e sujos Flores fenecem, e demônios agradecem Opondo-se a orações de fervor e lamentos O silêncio incomoda os ouvidos do mundo Ecoando pelas cidades gritos estrondosos De donzelas violentadas e prostituídas. O fogo-fátuo ilumina a noite dos trópicos E no velho mundo a noite implícita desejos De consumir donzelas mortas e irmãs O prazer e a volúpia surgidos da noite quente. E pessoas que velam copos, velam mortos Vivos moribundos alcovitados em leitos Doenças incuráveis, notícias lutuosas Juntam-se aos deleites de delírios febris De prostitutas, de homossexuais infelizes. Velas que iluminam os quartos de donzelos Que ficam insones, pensando em seus amores A malandragem, que acorda durante a noite E igrejas satânicas que invocam

Elegia 1938

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas eas ações não enceram nenhum exemplo. Praticas laboriosamente os gestos universais, sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual. Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas, e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção. À noite, se neblina, abrem guardas chuvas de bronze ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas. Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer. Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras. Caminhas por entre os mortos e com eles conversas sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito. A literatura estragou tuas melhores horas de amor. Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear. Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade coletiva. Aceitas a chuva, a gue